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segunda-feira, 25 de abril de 2016
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Problemas da criação #27
Como
agradar?
Por Rogério DeSouza
Quando
eu era criança, adorava seriados de heróis japoneses como Ultraman
e Spectreman. Na época mal notava o zíper da fantasia daquele
monstro ou os fios quase invisíveis que levavam aquelas naves de
brinquedo. Coisas que agora noto principalmente em produções mais
atuais cuja tecnologia de efeitos evoluiu bastante.
Durante
nosso crescimento, desenvolvemos uma visão diferente das coisas ou
em outras palavras um senso crítico. Coisas que Ultraman e
Spectreman devem enfrentar hoje em dia e você criador também.
Com
a proliferação da internet a coisa só se ampliou e todos se
tornaram formadores de opinião em potencial e julgam tudo que
assistem ou consomem.
Se
as pessoas falam mal da qualidade do papel de uma revista impressa
por uma grande editora, imagine por uma revista impressa na pequena
gráfica perto da sua casa. É necessária uma compensação muito
grande para ser aceito por tal público.
Afinal,
tudo tem que ser perfeito, impecável?
No
que noto ultimamente, se não for acabara sendo, pois o senso crítico
das pessoas tem se elevado muito nos últimos anos, estamos ficando
mais espertos analíticos e arrogantes.
A
conseqüência é que temos que correr atrás, já que detectam
falhas de quadrinhos e filmes de grandes nomes, vão detectar suas
limitações artísticas feitas de forma independente.
Em
minha opinião a posição do crítico é confortável, pois se vale
de nossa sagrada liberdade de expressão. Tal liberdade leva algumas
pessoas à serem grosseiras, o que pode parecer engraçado em alguns
aspectos se for levado na esportiva, mas prejudicial em outro,
fomentando o ódio inconsciente a determinada pessoa que apenas faz
seu trabalho.
Havia
um sujeito que criticava todo mundo de maneira ferrenha, ele tipo
“descia a lenha” “sem papas na língua”, ofendia sem
critérios e tinha até seguidores.
Eu
perguntava a amigos o que esta pessoa gostava?
O
que ele fazia de sua vida?
Existem
esses tipos ainda, com maior ou menor intensidade, alguns nós
gostamos e outros nem tanto.
Muitos
os conhecem como trolls, termo tirado de um monstro mitológico e
truculento ou haters palavra referente a ódio.
Uma
parcela destes formadores de opinião nos fazem sentir mal por termos
um gosto diferente do dele e até indiretamente somos acusados de
fomentar a ignorância pelas nossas preferências e por nosso
trabalho.
Afinal
“o critico sempre tem bom gosto” e usa isso para julgar o
trabalho alheio.
No
entanto, você deve separar do bom crítico do mau crítico. Ou seja,
aquele que salienta tanto os pontos negativos como os positivos que
analisa com o intuito de guiar a pessoa e não apenas fazer pouco
dela, achando que com isso a tornaria uma pessoa melhor. O mau
crítico salienta apenas um lado da moeda mesmo dizendo algo de bom
para disfarçar, tipo “Você é bonita, mas é uma mula”.
Por
outro lado não podemos passar a mão na cabeça, quando a coisa está
visivelmente errada. Então desconfie dos críticos bajuladores
(geralmente sua mãe ou amigos) que dizem coisas do tipo “você é
bonita e perfeita”. Isso prejudica em muito sua evolução
artística.
Mas
qual critica você deve ouvir?
Acho
que educadores são aqueles que melhor se encaixam nesse quesito.
Aqueles que dizem o que está errado dão sugestão e lhe mostram o
caminho que deve ser seguido para melhorar, pessoas dizem coisas como
“você é bonita, mas precisa estudar um pouco mais”.
Para
lidar com o público com um senso critico bem apurado (ou do tamanho
do Godzilla) você deve ter um pouco de humildade e reconhecer suas
limitações. Nunca responda agressivamente quem é agressivo com
você, sei que ninguém tem sangue de barata, portanto se não tiver
nada melhor para dizer, o silêncio é a melhor resposta (isto também
vale quando falam de coisas que você gosta). Outra boa resposta que
você deve dar é no seu próprio trabalho, mostre que você sabe o
que esta fazendo.
E
não alimente os trolls.
Particularmente
quando avalio um trabalho alheio vejo os dois lados da moeda, só que
não me sinto muito confortável com isso exatamente por ser criador
de histórias. Creio que já fiz algum comentário jocoso deixando
escapar um pouco de arrogância de minha parte e sinto por isso.
Se
não gosto muito de uma coisa nunca falo dela e se uma coisa que
gosto tem alguma falha eu avalio e digo como eu faria. Não sou do
tipo que diz que “isto é uma merda”. Por este motivo criei a
coluna “Problemas da criação”.
Daí
vem a questão do texto: Como agradar?
Eu
digo que não há como agradar. Algumas pessoas podem até gostar de
inicio, mas basta você mudar o seu estilo ou atitude que de repente
boa parte delas deixa de gostar. É assim que funciona.
Então
o jeito é baixar a cabeça e ir trabalhando e evoluindo os
admiradores virão no meio de muitas opiniões e não se preocupe,
são apenas isso, opiniões.
Eu
ainda gosto de ver Ultraman e Spectreman, mesmo com suas limitações.
domingo, 21 de julho de 2013
Problemas da Criação #24
O fenômeno da história ruim.
Por Rogério DeSouza
Num momento eu pensei: “Como fazer boas histórias”, mas daí eu percebi que seria uma coisa difícil de fazer, pois não tenho a noção de que minhas histórias são o suficientemente boas, na minha perspectiva inicial sim, mas no geral não tenho idéia exata do que as pessoas acham do que faço, por isso não posso me dar o luxo, pelo menos em minha opinião, de dizer como fazer histórias boas. Mas vou num caminho contrário. Baseado em inúmeras resenhas, opiniões e meu próprio ponto de vista vou falar sobre histórias ruins e como elas acontecem ou não, tanto nos quadrinhos, cinema e outras mídias.
O primeiro quesito ao qual posso começar é a ambição, ou seja, cenas de impacto, visual dos personagens e ambientação, bons efeitos, investimento maciço... Apenas isso. Nenhuma história ou trama que ajude a nos envolver com os personagens, apenas quer vendê-los ao público usando o visual. Ha muitas situações em que se apropriam de uma marca/personagem já consagrada e usa sem se ater no que fazia aquilo bom. Isto é um dos principais problemas da indústria, tanto dos quadrinhos quanto do cinema.
Atrelado a isso vem o segundo quesito: Carência de criatividade. Quando fazemos histórias em escala industrial não temos muito tempo para pensar em novas idéias e tão pouco arriscar colocá-las no mercado, pois o retorno tem que ser imediato. Há um abuso substancial nos clichês ou o pensamento equivocado de que a história possa se sustentar apenas neles caracterizando pouca inspiração.
Mesmo assim gostei dessa história.
Mesmo sem tecnica alguma já fazia histórias para públicá-las, hoje ainda cometo erros, mas isso deixaremos para ver depois. |
E é ai que vamos a um termo que ouvi de meu colega Rodjer Goulart (Dragão Escarlate) que guardo na cabeça até então: Excesso de criatividade. É você colocar elementos na história sem a devida necessidade, coisas que não tem a mínima importância para a trama ou para o personagem. Inventar coisas completamente fora de contexto ou incoerentes melhor dizendo “viajar na maionese”, também vem da arrogância do autor.
Deixar a trama complexa demais não vai tornar sua história mais Inteligente e sim mais chata e até entediante. Está certo que não devemos subestimar a inteligência do espectador/leitor, mas temos que ter um equilíbrio correto entre entreter e passar alguma coisa ao público nas entrelinhas.
Mas tem casos que você é agraciado com uma seqüência ou series de boas histórias, mas de repente ha desgaste de idéias, pensamentos e estilo e como resultado as pessoas começam a rejeitar suas tramas se opor as maneiras que você resolve situações ou até seu estilo de traço. O pior que sua persistência, às vezes complica a situação chegando a atingir toda sua carreira, sistematicamente.
Mas eis um dos fatores que nos foge completamente de nosso controle: A perspectiva. O que é bom para um é ruim para o outro e vice versa. Muitas vezes nos decepcionávamos quando mostramos nosso trabalho para alguém fora nossos pais e esta pessoa não achar aquilo tão bom quanto nossos parentes acharam. Se por um lado isto no inicio é bom para a evolução de nosso trabalho, por outro, quando a obra é mais abrangente e atinge o público ha aquela divergência de opiniões que independente da qualidade, complica a aceitação, pois sua renovação e expansão de público esta a mercê da opinião alheia e como sabemos parte do público muitas vezes segue a crítica especializada para ter uma noção no que vale a pena gastar seu dinheiro. Ou em outro caso seguem a “moda” ou o que esta bombando no momento totalmente apático a qualidade da obra por simplesmente não se importar com isso.
Como exemplo eu posso dizer que gosto do primeiro filme dos Transformers, filme que muitos odeiam e não gostei do final de “Onde os fracos não têm vez” um bom filme que muitos adoram. Ou seja, relevei umas coisas e não engoli outras. E é o que o público faz de maneira imprevisível, o que torna difícil criar uma fórmula para uma história eficaz. Você pode criar uma história para um nicho, o que não é ruim, mas não vá esperando se sustentar apenas com isso se for restrito demais ou recriminar quem não o valoriza, são apenas opiniões divergentes da sua e de outros que admiram seu trabalho.
Deixo um pouco fora da discussão obras feitas para parecerem ser ruins ou gênero trash para ser exato.
Também existem histórias tão ruins e mal feitas que chegam a ser divertidas de ver, como um filme recente sobre um tornado de tubarões, vejam só...
Concluindo, é inevitável fazer uma história ruim ou com baixa qualidade ou até com qualidade, mas que ninguém goste, pois a história ruim simplesmente surge como um fenômeno pouco bem vindo no currículo artístico de criação que na maioria das vezes não damos conta ou ignoramos. Para mim o negócio é simplesmente baixar a cabeça e fazer alheio a tudo mantendo suas convicções e o equilíbrio de sua produção. O que acontecer depois já é outra história, seja ela boa ou ruim.
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Problemas da Criação #13
Vozes ao vazio
Por Rogério DeSouza
Eu adoro ler sites de noticias de cultura pop para saber o que anda acontecendo. Como leitor de HQ, gosto de ficar por dentro das coisas, mesmo que não forem relevantes ao que eu faço ou aprecio.
Muitos desses sites e blogs tecem seus comentários sobre o que sai no mundo do entretenimento. Em sua maioria saem criticas a conduta de determinado filme, gibi ou livro. Eu mesmo já fiz muito disso aqui.
Suas opiniões influenciam (mesmo que eles não reconheçam) inúmeras pessoas que freqüentam seus blogs e sites.
Um dia parei para pensar e me fiz à seguinte questão:
SERÁ QUE OS CRITICADOS NOS OUVEM?
“É óbvio que não”, você vai dizer. Mas vamos fazer um exercício de imaginação. Se por acaso o Frank Miller ouvisse as criticas com relação ao filme “The Spirit”?
Qual a explicação que ele daria? Será que ele iria concordar ou iria fazer-se de surdo e não dar à mínima importância a opinião alheia?
Tenho lido blogs de pessoas informadas que tecem seus comentários sobre tudo. Um desses falava sobre o mercado de distribuição e a editora Panini dizendo dos erros freqüentes quanto o tipo de distribuição. No comentário do amigo, ele questiona sistema de assinaturas da editora e exemplifica algumas possíveis soluções ao problema.
O que aconteceria se a Panini respondesse a ele? O que iriam falar?
Acho que o Stallone deveria ouvir o Hell do site melhores do mundo, que falou como seria uma continuação de “Os Mercenários”. Bom, pelo menos ele deve ter ouvido alguma critica com relação ao que ele falou sobre brasileiros para responder coisa do tipo: “Desculpa, foi mal...” embora para muitos não tenha sido o suficiente.
O diretor Uwe Boll chegou a responder as criticas aos seus filmes de uma forma inusitada: No ringue de boxe, enfrentando seus detratores. O que lamentavelmente seja uma prova de sua ignorância diante do público.
Recentemente, durante a estréia de mais um filme da série que adapta muito mal o jogo Residente Evil a protagonista (a atriz Milla Jovovich) dos três seguimentos põe-se a responder as criticas voltadas a sua personagem que não existe nos games, admitindo que foi criada especificamente para o cinema para abranger um público muito maior que não conhece e não joga games. Isso não minimiza o desconforto de mudarem tanto um jogo que já tem uma linguagem cinematográfica, mas há o elo da comunicação e o reconhecimento de que a intenção não é agradar somente os fãs dos jogos que rejeitam a franquia, independente da qualidade de roteiro ou atuações.
Acho que o ser humano adulto tem tendência a ser arrogante, mesmo que por alguns momentos. Dificilmente uma pessoa aceita uma critica de inicio, Renato Aragão (Didi) nunca as ouve, pois acha que protege seu estilo de fazer humor, cujos muitos acham ultrapassado. Por um lado é bom, pois o artista tem que realmente ter liberdade criativa por si próprio, não pode ficar seguindo idéias de outros por mais que sejam boas, mas por outro lado perdem a ancora do bom senso e do mundo ao seu redor.
Como autor, procuro sempre saber o que acham do meu trabalho, pode parecer até paranóia da minha parte, mas acho importante. Talvez nem concorde com o que é dirigida a minha pessoa, no entanto leio mesmo assim e reflito sobre o assunto.
Sinceramente, gostaria que todo artista, conglomerado de entretenimento e demais serviços, vissem/ouvissem o que o público em geral fala sobre eles, mesmo não concordando, então criasse a discussão e prováveis soluções para que possamos apreciar nossos gibis, séries e filmes sem preocupações.
Acrescento aqui o que andei lendo no blog do Universo HQ sobre a opinião deles da Rio Comicon e como nos comentários da matéria alguém da organização do evento se prontificou a responder todas as questões sobre o não comparecimento das editoras, infra-estrutura, etc... Gostei muito do tom da conversa bem civilizada por parte de ambos os lados.
Infelizmente, na maioria dos casos, o contato se torna distante e embora falemos a mesma língua, nossas idéias se divergem. O outro lado se protege de um muro de vaidade enquanto as palavras são ditas e não respondidas ou questionadas criando alicerces de ódio e indignação muitas vezes confundida como trollagem por conseqüência o muro ou a parede se torna mais alto e inexpugnável e nossas palavras se tornam apenas bites de memória na rede mundial.
Será que poderemos mudar isso...
Não. Desculpe. O que quero dizer é:
Vamos mudar isso, por favor?
E de que adianta escrever isto? Ninguém vai ler mesmo...
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