A beira do apocalipse dos quadrinhos
Por Rogério DeSouza
Realmente essa piada de fim de mundo rende. Isso começou com os
Maias que por um senso de humor muito inteligente fez um calendário com tempo limitado para os estudiosos contemporâneos o encontrarem e especularem que esses espertos Maias previram o fim dos tempos.
Das duas uma, se for o fim mesmo espero que seja rápido e indolor se não, os espíritos desses Maias se erguerão do túmulo e rirão das nossas caras.
É; o fim está ai. Nos quadrinhos temos sinais claros disso, tenho ouvido isso desde a década de 90, desde
o surgimento da internet e dos scans, da morte de Will Eisner, Sérgio Bonelli, Moebius, Joe Kubert, do fim das tiras do Calvin e Haroldo, da
ascensão do mangá, da
compra da Marvel pela Disney, da perda de inspiração de Frank Miller... Enfim.
Atualmente, as trombetas do apocalipse dos quadrinhos têm soado muito desde o
reebot da DC comics que gerou coisas como
Before Watchmen e de tabela
a saída da editora Karen Berger do selo Vertigo.
Eu não a conhecia, apenas as publicações que editava que não eram poucas, iam desde
Monstro do Pântano até 100 balas. Karen é uma profissional muito bem quista em seu meio e sua saída da editora deu certa comoção aos fãs dos quadrinhos de qualidade adultos assim como artistas que trabalharam com ela.
Muitos profetizam assim como os Maias de que este é o prenuncio do
fim do selo Vertigo o que significa o fim das histórias em quadrinhos de qualidade, o fim das histórias em quadrinhos para muitos leitores. Pode ser o fim, enquanto aqui no Brasil a cooperativa de artistas independentes, denominada
Quarto Mundo fechou as suas portas devido a inúmeros fatores, entre eles mudanças no cenário das HQs independentes e desequilíbrio de funções. Essa desgraceira toda só corrobora para que a
piada Maia seja real e esta ao nosso alcance.
Sabem o que penso disso? Ao ver meu sobrinho com um ano de idade, constato uma coisa:
Ainda há gente nascendo no mundo e eventualmente parte dessas pessoas vai aprender a ler, escrever ou desenhar, independente do que seja, vão ser consumidores ou criadores, mas nós não pensamos neles e sim no fim do nosso mundo passado, sem perspectivas por que o que tinha graça já passou para nós, velhos e rancorosos.
Não temos paciência para transmitir o que nós aprendemos e gostamos adiante, desistimos dos consumidores de leite com pêra e ovomaltino. Talvez tenha sido nosso erro darmos tanto valor ao
Jack Kirby e esquecemos os contemporâneos que ainda vivem fazendo o agora.
Deixamos nossa “adultíce” afetar nossos jovens que zombamos por não terem vivido nosso tempo e ignoramos o deles. Admito que de maneira saudável seja até bom tirar sarro dos jovens e seus gostos, mas logo eles estarão na nossa posição de consumidor e criador e o que podemos fazer é indicar o caminho, se não o fizermos, o mercado o fará. Eu acho que por tais razões o fim (ou a piada Maia) esteja próximo de acontecer, muitos de nós já largaram deste mundo sem remorso deixando de sofrer a cada “calamidade”.
Mas ao ler coisas como
“Astronauta- Magnetar” ver iniciativas de quadrinhos como as do FIQ, a do site
Jovem Nerd que surpreendeu lançando o álbum
“Independência ou Mortos”, indicações de quadrinhos alternativos a prêmios e listagens mais diversas pouco fora de seu meio e grupos de artistas independentes que se juntam para realizar suas próprias obras, sem falar de diversas outras coisas. Depois disso tudo eu me pergunto se realmente é o fim.
Acho que talvez seja uma piada dos Maias ao qual posso dispor ao meu favor, pois tenho que fazer alguma sátira sobre o fim do mundo em meio a essa confusão e é ai que entra a questão da
oportunidade. Coisas que editoras menores e artistas tem que enxergar e o público tem que conferir.
Mas perdemos nosso tempo “profetizando” o fim do mundo enquanto ele gira e os antigos Maias de uma forma ou de outra estão rindo de nossas amarguras.