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terça-feira, 24 de julho de 2012
Problemas da criação #19
Profissionalismo
Por Rogério DeSouza
Quando se trabalha em determinada função tipo médico você tem que estudar medicina só assim ter a permissão e experiência necessária para atuar em seu oficio, algumas funções até não exigem tanto. Quem empregá-lo dar-lhe, você deve seguir o seu horário e ser remunerado de acordo.
Pouco diferente disso esta o ilustrador (ou desenhista) que hora trabalha em local fixo e hora faz freelancers, ou trabalho autônomo. Para isso tem que haver certo estudo na área de variados níveis dependendo a especialidade. Mas a profissão de ilustrador em questão não é encarada com seriedade por parte da sociedade deste país, tanto por falta de conhecimento sobre o oficio como por se tratar de algo ligado com “arte”, como se ser artista não fosse uma profissão.
Você que desenha me diga quantas vezes já não te pediram para fazer um desenho de alguém ou alguma coisa?
É, no inicio é sempre assim, as pessoas pedem a você um “simples desenho”, você faz porque gosta e tudo bem, mas com o passar do tempo sua técnica vai se aprimorando e você tem planos quanto aos seus desenhos e no final das contas quer lucrar com eles. E é ai que a coisa complica, pois como disse acima, o trabalho como ilustrador não é visto no cunho profissional e você quer receber pelo seu trabalho que não é só apenas questão de arte, mas demanda tempo para mostrar rascunhos, finalização, colorização... Tudo isso é trabalhoso embora para o leigo não pareça, já que se trata de oferecer algo de qualidade para o cliente, que muitas vezes acha que não deve pagar por um esboço não aprovado. Não é só financeiramente que o artista não tem o reconhecimento devido. Mas como o cliente muitas vezes trata o profissional minimizando seu trabalho como coisa que qualquer um pode fazer, sem falar que o leigo não tem idéia de como quer o seu pedido, pois não tem a visão adequada para descrever o seu desejo ou na pior das hipóteses muda de idéia no meio do caminho desperdiçando o tempo (e a paciência) do profissional.
Nos quadrinhos também não é diferente, pois muitos profissionais recebem por página como no caso dos comics ou por conjunto de tiras caso nos jornais diários. Claro há variações e também alguns descasos. Já ouvi situações em que artistas nem eram nomeados por seus trabalhos e as vezes recebiam um belo ”calote” depois do serviço pronto. Também mudanças editoriais que alteravam coisas já acabadas e atrasos por parte de terceiros, deixando o prazo já curto, inconciliável.
Fazer quadrinhos aqui no Brasil como profissão é quase uma lenda, você precisa ter alguma outra profissão paralela que lhe dê sustento até que consiga algo palpável no ramo independente e mesmo assim não garantido. Muitos capitalizam seu trabalho através de doações ou vendendo produtos relacionados quando se trata de personagens. Isso é meio caminho andado para conseguir certo reconhecimento no meio.
Se optar por desenhar no exterior, antes de qualquer coisa você precisa mostrar seu portfólio só assim você pode conseguir um agente ou fazer por conta própria contato com as grandes editoras, o que não é menos difícil.
Em toda minha vida como desenhista, tive experiências diversas, as piores em minha opinião, são no ramo publicitário, cujo além dos prazos serem terrivelmente curtos, há sempre aquela mudança de última hora que põe tudo a perder. Você pode até receber por isso, mas no fim das contas não acho compensador para mim, não havendo escolha, tem que impor/expor os limites do que deve ser feito.
Se você começar a se profissionalizar deve valorizar o seu trabalho orçando sua arte, considerando seu tempo e tipo de serviço tanto vindo da publicidade ou fazer caricaturas de pessoas.
No caso se você mostrar seu portfólio por ai, aceite criticas e evolua sua arte. Cumpra prazos, isso ajuda muito no currículo.
Aprenda a dizer NÃO. Recusar trabalhos cujo você suspeite que não seja ressarcido, que não leve a lugar algum ou que esta fora de seu alcance.
Os maiores exemplos do que estou falando, estão no divertidíssimo blog do Divasca, o artista relata através de e-mails pedidos muitos absurdos de seus clientes, que por um momento você acha que é brincadeira, mas são muito coerentes e o autor começa a zoar todos os “clientes” desavisados.
Daí, você pergunta: Vale à pena?
Sim vale, afinal é uma profissão como qualquer outra e com a devida adesão e envolvimento por parte dos interessados, se torne algo mais respeitoso por parte da sociedade em geral.
Digo isso porque estou me profissionalizando, não estou vendo mais meus desenhos apenas como mero passatempo, me exigindo mais e me dando o devido valor ao que eu faço.
Você que não está familiarizado com a profissão de ilustração pense um pouco antes de pedir um “desenhinho” para um profissional, tenha Idéia do que realmente quer e o trabalho que o ilustrador terá para realizá-lo que por muitas vezes sacrifica, suas noites de sono, seus fins de semana e o tempo com sua família para realizar o que poucos conseguem fazer.
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