segunda-feira, 15 de março de 2010

Problemas da Criação #05


O quadrinho brasileiro parte01
Por Rogério DeSouza

Ha quase um mês, estava zapeando nos sites onde costumo ler noticias e outras bobagens, quando me deparo com uma matéria do site “Melhores do Mundo.net” sobre um suposto plágio de antigos heróis brasileiros por editoras americanas há décadas atrás. A matéria questiona a veracidade da história e de seu autor. O assunto se estendeu nos comentários em seguida causando furor e textos longos. Aquela discussão havia me instigado a pensar sobre o quadrinho nacional.

Como disse nos comentários de lá, creio que o gênero HQB seja todo e qualquer quadrinho que esteja sendo produzido aqui, pois somos tão influenciados externamente seja comics, europeu ou mangá, que é difícil tirarmos uma referencia de nós mesmos. Se considerarmos isso independente do gênero de história nós estamos produzindo HQs nacionais.

Uma questão que sempre me perseguia é por que nosso quadrinho, não emplaca? Ah, sim! Mauricio de Sousa é uma grande exceção neste cenário trágico do quadrinho nacional.

A palavra “trágico” é um pouco alarmista, mas ilustra bem o que esta acontecendo com um gênero que esta se estagnando frente a outras mídias. Relegando algumas revistas a poucos números antes de serem canceladas ou não passando da primeira edição.

Muitos atribuem isso a qualidade dos trabalhos feitos e até certo ponto, concordo com isso, pois o artista independente geralmente é amador. Não basta apenas saber desenhar, fazer um gibi exige saber fazer uma boa diagramação, ortografia nos textos, sempre revisar o trabalho, imprimi-lo, etc. Eu mesmo sofro um pouco pela minha pouca habilidade em montar um gibi de maneira decente.

Outro fator seria a distribuição das revistas. Há editoras grandes que possuem tal aparato, mas não investem ou deixaram de investir em quadrinhos. Enquanto aos pequenos editores têm que se virar. Muitos estão dando um jeitinho para burlar isso, um desses são o pessoal do 4º mundo, que tem ajudado bastante trabalhos independentes.
Também temos a frieza do público brasileiro em relação ao que é produzido em seu país. O motivo seria atribuído ao que eu disse sobre qualidade, as pessoas (em grande parte dos leitores assíduos de quadrinhos) não perdoam amadorismos, como conseqüência se fecha para boas obras independentes. Também ha o ingênuo pensamento de que tudo que vem de fora é melhor. Lembrem-se, nem todos pesam assim, mas esta parcela é pequena.

Falta de incentivo pesa, pois o artista no Brasil, em sua maioria não pode viver deste oficio integralmente. O que poderia ser um trabalho mais profissional acaba se tornando algo próximo de um hobbie, tendo todo seu tempo hábil disponível a outras tarefas e menos tempo para concluir qualquer projeto que vingue.

As grandes editoras tem certa parcela de culpa por seu receio típico de experimentação, em contrapartida não podemos condená-la por isso, pois ela se sustenta basicamente de vendas e se o gibi não vender é prejuízo. Com isso lamentavelmente não dá espaço para inovações.

Algumas editoras menores publicam trabalhos em formato álbum para livrarias. O único seguimento que consegue periodicidade nas bancas são os infantis, especialidade de Mauricio de Sousa, é claro. No entanto a Turma da Mônica é o único que se sustenta no mercado atualmente com regularidade.

Em minha opinião, a solução pode ser:

Criar um meio de distribuição barato e acessível.

Pensar no seu trabalho como um álbum para livrarias e comic shops.

Cooperação entre artistas é importantíssimo no processo, nem que seja apenas para terem um contato no meio.

Criar um mercado, ai é muito difícil. Tudo dependeria de uma massiva campanha de marketing e um trabalho profissional e de qualidade.

A internet, que é um lugar prolixo para artistas que queiram mostrar sua arte (vide o cara que vos escreve!) então é um bom lugar para começar. Scott McCloud autor de “Desvendando os quadrinhos”, profetiza em seus livros que os quadrinhos digitais são o caminho, pois a internet abrange o público global.

Os estudiosos no assunto prevêem que o gibi de banca como mídia rentável acabará em detrimento de vários fatores, se tornando um artigo de luxo para livrarias. O que pode sobrar nesta área é apenas HQs infantis. No momento em que você, jovem artista brasileiro resolver querer fazer quadrinhos, tenha isso em mente, mas não se abata, continue. Talvez você mude este cenário.
Falaremos mais sobre HQ nacional a seguir.

Um comentário:

  1. É bem por aí. Quando muitos autores não lançam revistas do próprio, resolvem por desejo, montar fanzines.

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